Ao visar o encontro entre o pensamento crítico ao conhecimento de negócios, novo núcleo fomentado pelo investidor Stephen Schwarzman quer pensar a questão da ética na inteligência artificial e em novas tecnologias computacionais a serem desenvolvidas.

Enquanto no Brasil questionamos a validade e utilidade das ciências humanas, o investidor Stephen Schwarzman, co-fundador da empresa de finanças Blackstone, acaba de doar US$18 milhões à Universidade de Oxford para criar o Centro Schwarzman de Humanidades, através do qual a universidade passará a ter um “núcleo dinâmico dedicado às áreas de conhecimento que informam nosso entendimento e apreciação da experiência humana.” Segundo comunicado publicado pela instituição, o centro também será o lar do novo Instituto de Ética em Inteligência artificial, com o qual serão aplicadas as capacidades da universidade em aproximar as ciências humanas a estudos de implicações éticas sobre a inteligência artificial e outras tecnologias computadorizadas.

Segundo o site Quartz, a doação de Schwarzman à Oxford é a maior já recebida pela universidade desde o Renascimento, mas a pergunta que fica é: por que ele decidiu investir em ciências humanas em vez de tecnologia e engenharia, por exemplo, que são áreas que estão despontando no momento e que, na realidade, já têm uma fama solidificada ao longo dos últimos anos.

Para o site, talvez isso tenha acontecido porque o investidor “reconhece a falsa dicotomia na própria questão. E parece que Schwarzman não está sozinho ao apostar nas humanidades, particularmente quando elas são correlacionadas a questões calcadas em ética, tenologia e negócios.”

“Apesar do alto perfil de apoio de titãs como Schwarzman, a ideia que o ensino de empreendedorismo é melhor combinado com artes liberais para realmente preparar administradores e profissionais de serviços do futuro é ainda uma ideia radical em muitos círculos educacionais. Muitas universidades bastante visadas rejeitam a ideia de se ter uma educação superior focada em negócios, preferindo estudos puros em artes, humanidades e ciências sem tentar o aluno a experienciar suas habilidades práticas e capacidades que são características de sua educação profissional.”

Essa é uma realidade muito mais próxima das universidade públicas brasileiras do que as particulares — independentemente do curso, as últimas tendem a ter um olhar mais voltado para o mercado do que à pesquisa. No entanto, também essa dicotomia entre academia e mercado é nociva ao ensino e à inserção dos alunos no mercado de trabalho, dando apenas a eles ou a possibilidade de lecionarem ou de se entremear em um mercado que já o vê como defasado quando este finalmente garante seu diploma ao finalizar seus quatro anos (ou mais) de estudos.

No entanto, as escolas focadas em negócios têm essa maior proximidade com corporações e a habilidade de conectar a educação clássica a capacidades mercadológicas que chegam a uma fórmula perfeita para o profissional do futuro — é a base de novas metodologias de ensino como a STEAM, por exemplo. “O que está em demanda é a análise de negócios junto às habilidades de pensamento crítico e uma visão global. Faculdades com pensamento liberal mais orientado ao futuro, desse modo, estão trabalhando em novos currículos nos quais negócios, empreendedorismo e estudos organizacionais são ensinados a partir de fundações multidisciplinares — assim dando aos seus alunos aspirações de carreiras em negócios a habilidade socialmente útil de questionar e criticar decisões de negócios a partir de lógicas multidisciplinares.” Em outras palavras, a revolução do ensino que já ocorre nos níveis mais fundamentais não precisa aguardar para que essas crianças cheguem à idade de frequentar uma universidade: elas já podem começar a ser implementadas.

Nos Estados Unidos, esse tipo de conexão já acontece todos os anos com iniciativas como o Programa de graduandos da Aspen Institute Business & Society, no qual o grande desafio é justamente misturar negócios e humanidades na classe. “Eles abrangem desde as maiores escolas públicas e privadas do país, mas também consideram faculdades bem vistas que ficam em cidades pequenas e em áreas rurais. Eles são contadores e doutores em poesia, acadêmicos especializados em administração e cientistas políticos, design thinkers e professores de Shakespeare e Tao, acadêmicos do direito e alunos decanos. Esses educadores fazem sua mágica com estudantes jovens o suficiente, com cérebros ainda flexíveis para memorizar ou recitar poesia. Eles incentivam habilidades longevas como a valorização da palavra escrita, a reflexão antes de resolver um problema, tornar decisões de negócios em uma ciência de práticas reflexivas, bem como a apreciação da função das artes como um motor de desenvolvimento econômico e criatividade.”

“A mudança que acontece no mercado também reflete o talento que está chegando nas empresa se tomando responsabilidade administrativa. As forças sociais que estão remodelando os negócios, assim como as escolas de negócios, estão criando a verdadeira mudança e virando o mundo em direção a esses pesquisadores. Funcionários, operários e gerentes são o novo mecanismo de confiança desse negócio. Pense nas conversas sobre o #Google Walkout e o #MeToo que acontece na cafeteria dos funcionários. Os acadêmicos que se reúnem na Universidade de Boston essa semana estão de olho nesse espaço — mas também dando aulas nesses espaços.”

Em outras palavras, ao misturar ciência e arte com pensamento analítico, administração e habilidades de marketing encoraja decisões mais focadas no ser humano e com maior qualidade — são decisões que, afinal, resistem ao teste do tempo. Em seu novo livro “Range: Why Generalists Triumph in a Specialized World”, David Epstein foca justamente como generalistas serão mais visados ao sucesso do que especialistas no futuro. Como descreve a reportagem do Quartz, “Epstein observa que não são as 10.000 horas que irão ajudá-lo a ter sucesso no que ele chama de ‘espaços de aprendizagem imoral’, é a interdisciplinaridade dos cursos — a busca artística da combinação com as ciências; é saber que as ‘coisas adjacentes’ são as que mais importam.”

Nesse sentido, o que se conclui é que precisa-se criar novos modelos de pensamento a partir de uma co-criação na educação. “Nós definitivamente precisaremos dos estudantes de hoje para amplificar os problemas e espaços amorais conforme enfrentam suas jornadas de negócios. Nós temos esperança que o impulso de co-criar esteja não apenas alavancando em Oxford, mas muito além”, conclui a reportagem.

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