Certas coisas imaginadas na ficção científica do ocidente já são, infelizmente, uma realidade no oriente. E uma delas é a questão da grave poluição do ar na China e na Índia. O que outrora se tornou uma inspiração para se criar um acessório de moda, uma máscara para filtrar a poluição e também receber cristais como adorno na alta costura, agora também é um artigo de luxo nos negócios das grandes cidades asiáticas.
Em uma matéria publicada no site Futurism, Lou Del Bello traz o exemplo do hotel Cordis, uma hospedagem luxuosa que oferece como suas vantagens uma bela piscina, proximidade de estações de trem e do aeroporto local e ar duplamente filtrado. “Realmente, a qualidade do ar parece ser uma vantagem de vendas nesse hotel de luxo — cada um de seus 396 quartos são equipados com um monitor de poluição”, escreve Del Bello.
Desse modo, em cidades super poluídas como Shanghai, Pequim e Delhi respirar ar puro se tornou o novo “cool”, isto é, a nova forma de os mais ricos se diferenciarem dos mais pobres, que estão constantemente submetidos ao esse ar poluído. Neste site, por exemplo, você pode acompanhar o índice de qualidade do ar em tempo real, bem como uma previsão — é esperado, por exemplo, que nesta quarta-feira, dia 4 de abril, o índice esteja com uma qualidade pior.
Em 2014, a Organização Mundial da Saúde quantificou os efeitos de se submeter a um ar tóxico como o dessas cidades. Resumidamente, esse tipo de poluição pode causar cerca de 7 milhões de mortes prematuras por ano, além de ser responsável por uma variedade de condições médicas que incluem câncer de pulmão e ataque cardíaco. Mesmo assim, o governo de diferentes países tentaram maquiar esse problema, especialmente por conta de relações estabelecidas com indústrias como a das termoelétricas, mas situações como as da megacidades asiáticas chegaram a um nível tão crítico que é impossível de se ignorar. Por isso, o governo chinês foi forçado a tomar alguma providência ou acabar tendo sua população reduzida por conta desses problemas de saúde advindos da poluição.
Apesar de a ideia de cobrar pelo acesso de ar puro ser algo absurdo, em alguns países essa foi a única solução que surgiu de forma natural — e empresas privadas tiraram vantagem disso. Desde as escolas mais caras de Delhi, que são frequentadas pelos filhos da elite local ou de imigrantes ricos, até hoteis de luxo como é o Cordis, em Shanghai, há diferentes empresas tentando transformar ar limpo em um commodity.
Em entrevista para o jornal The Guardian, o administrador do hotel Cordis, John O’Shea, disse: “Penso nos dias em que todos tinham que carregar créditos para usar a internet. Agora a internet é como água quente — se você não tem alta velocidade e acesso rápido e fácil à internet gratuita, então está acabado. A qualidade do ar em ambientes internos também será algo assim — se você não pode garantir aos seus consumidores uma qualidade de ar muito melhor que seus competidores, então será uma falha sua. É sempre sobre adquirir esse tipo de importância.”
Del Bello, então, conclui que, em muitas partes do mundo, riqueza se tornou sinônimo de saúde — ou pelo menos de maior e mais facilitado acesso. Isto é, planos de saúde extremamente caros acabam significando que, se você não é rico, então cuidar da sua diabetes ou câncer pode não ser uma questão de escolha. “A divisão advinda da poluição, também, pode logo se tornar o novo normal”, escreve a jornalista.
A expectativa (e esperança) é de que os governos dos países passem a tomar decisões e atitudes que controlem e que melhorem a qualidade do ar em seus domínios, porém isso provavelmente se dará de forma lenta. Mais uma vez, o problema aqui não se trata da solução tecnológica, já que projetos como a Smog Free Tower estão sugerindo ideias como a construção de uma torre que suga a poluição e devolve ar limpo ao mesmo tempo em que transforma essa poluição em diamantes. Fora isso, outras mudanças menos diretamente aplicadas à purificação do ar, mas que mudam a forma como consumimos energia, também estão preocupadas em solucionar o problema da poluição do ar. A isso se incluem os carros elétricos, casas auto-suficientes, novos tipos de embalagens comestíveis e biodegradáveis etc.
Com o devido financiamento e atenção voltados para essas soluções, é possível de se acreditar em uma reversão e modificação não apenas das condições do meio ambiente como uma nova postura diante do consumo — seja ele energético ou no nosso estilo de vida, portanto fazendo com que hotéis de luxo que oferecem ar puro como um benefício se tornem algo novamente parte apenas da ficção.