Quando o assunto é estudos de futuros (futures studies), não estamos falando apenas de pesquisa de tendências em inovação e comportamento do consumidor. A disciplina também engloba planejamento estratégico diante de possíveis cenários, sejam eles positivos ou negativos. A diferença é que, como o filósofo Hans Jonas propunha, é melhor pensar no pior para que, ao menos, estejamos preparados.

Nesse sentido, as mudanças climáticas têm sido um tópico que não se resume apenas ao plano político, mas, infelizmente, a eventos catastróficos como as enchentes no Rio Grande do Sul, ocorridas este ano. Também infeliz é o fato de que este não é um incidente isolado, nem no Brasil ou no resto do mundo.

A Comissão de Refugiados das Nações Unidas já considera há um tempo a questão dos migrantes ou refugiados climáticos. Na realidade, pesquisas realizadas pela comissão chegam a falar de uma estimativa de 20 milhões de pessoas sendo forçadas a migrar todos os anos devido a eventos climáticos. No caso, essas migrações afetam principalmente (e desproporcionalmente) as populações marginalizadas, daí também o conceito de racismo climático.

Racismo climático, também conhecido como racismo ecológico ou ambiental (environmental racism), não diz respeito apenas a como eventos climáticos afetam populações marginalizadas. O termo também engloba decisões governamentais e corporativas que podem influenciar negativamente uma região ou território habitado por esses grupos. É o caso, por exemplo, de onde o descarte de lixo é feito (e o método) ou de onde materiais são extraídos.

No Brasil, o racismo ambiental fica latente quando pensamos no problema da gentrificação (que entrou em pauta no mundo com a chegada do AirBnB) e em projetos de construção que forçam a migração – como aconteceu durante a Copa do Mundo no Rio de Janeiro, em 2014. Na Amazônia, a maneira como o garimpo afeta negativamente as comunidades indígenas é outro exemplo de racismo ambiental que demonstra desproporcionalidade racial e étnica.

Portanto, quando os estudos de futuros tratam da questão climática, a abordagem é, de fato, preventiva e estratégica. Porém, ao mesmo tempo, é importante que o pesquisador mantenha a atenção no que está acontecendo atualmente e no que foi registrado no passado. 

Adotar esse olhar futurista no contexto corporativo, portanto, não está apenas em agir em resposta a catástrofes ou dados específicos. Substituir embalagens de plástico devido aos dados a respeito de contaminação dos oceanos por microplásticos não é mais (ou ao menos não deveria ser) um diferencial, mas sim o básico. A novidade está em empresas que também consideram populações e questões específicas.

No Canadá, a Ecojustice é uma das maiores ONGs focadas em legislação ambiental, tendo como foco problemas como o racismo ambiental, poluição por plástico e a extinção de espécies em risco, bem como seus habitats. Em 2022, por exemplo, eles ganharam um processo contra a ExxonMobil devido a projetos de extração de óleo e gás no oceano.

Também a RAVEN (Respecting Aboriginal Values and Environmental Needs, ou respeitando valores aborígenes e necessidades ambientais) tem trabalhado no levantamento de fundos para as populações indígenas canadenses, ajudando-as com diferentes questões legais que envolvem o impacto da mineração e extração de combustíveis fósseis nessas comunidades. 

Em 2020, a RAVEN apoiou uma moção em proteção à região de Teztan Biny, onde a comunidade indígena local atua com pesca. Depois de uma década de conflitos e negociações com a mineradora Taseko, a Suprema Corte canadense tomou a decisão em favor da Teztan Biny, assim evitando a construção de minas a céu aberto.

Outro exemplo é a startup francesa Finres, que tem trabalhado em soluções que ajudam fazendeiros a adaptarem sua produção de acordo com as mudanças climáticas já vigentes. A empresa analisa os riscos do produtor, faz recomendações de investimentos e cria uma estratégia otimizada de modo a evitar a necessidade de empréstimos devido a problemas de origem climática (por exemplo, secas ou inundações).

As enchentes no Rio Grande do Sul, por sua vez, não afetaram apenas os moradores de regiões urbanas, mas também produtores rurais. Estima-se que as zonas rurais de 478 cidades sofreram graves perdas, com estruturas de produção e lavouras totalmente destruídas pela água. De acordo com a Emater-RS, foram 206 mil propriedades afetadas.

Pensando nisso, a Família Gerdau Johannpeter, junto com a Empresa Gerdau, iniciou a criação de um Fundo Filantrópico para apoio na Regeneração do Estado. O RegeneraRS está aberto para receber propostas de projetos nas áreas de educação, habitação, negócios e soluções urbanas. A UP Lab tem orgulho em colaborar com estratégia e comunicação de impacto para o Instituto Helda Gerdau e também para a empresa B Din4mo, idealizadoras do fundo.

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