Se 2016 foi considerado o ano da realidade virtual, poderíamos dizer que 2017 tem sido o ano do chatbot?

Com a popularização da tecnologia, novas plataformas de criação de programas (robôs) conversacionais, como é o caso da Sequel, provam ser possível atuar na área sem a necessidade de ter grandes conhecimentos técnicos. Como consequência, também vemos iniciativas em áreas como o entretenimento e serviços de atendimento ao consumidor que têm adaptado chatbots aos seus canais digitais. Mas será que também há exemplos de como esses robôs têm sido aplicados a favor da comunidade?

Há duas semanas, comentei neste post sobre o trabalho do coletivo Pretalabna criação do chatbot feminista Beta, que funciona no Messenger do Facebook como uma porta-voz em favor da luta pela defesa dos direitos da mulher. Ainda, no ano passado, a Fundação Telefônica Vivo apoiou o desenvolvimento do chatbot Deco voltado para empreendedores da periferia.

Deco, chatbot criado pela Fundação Telefônica em apoio aos jovens empreendedores

Usando a mesma plataforma da Beta, o chatbot parte do programa “Pense Grande” tem como objetivo estimular o empreendedorismo entre jovens de 15 a 29 anos. O projeto ainda conta com uma série de dez vídeos que contam a história de jovens moradores do Campo Limpo, Grajaú, Capão Redondo, República, entre outros bairros da região metropolitana de São Paulo.

Segundo o Americo Mattar, presidente da Fundação Telefônica Vivo, a ideia por trás de Deco é fazer com que os jovens reconheçam seu próprio talento e vocação como líderes de suas comunidades, assim promovendo iniciativas que mostram que “é possível ter sucesso com o próprio negócio, independentemente da realidade onde se vive”.

Assim como Beta, Deco também foi escrito de modo a usar uma linguagem semelhante à forma como o público-alvo se comunica, assim promovendo identificação entre as partes. Isso se estende também para a campanha audiovisual, que conta um vídeo de chamado à causa protagonizado por Mel Duarte, poeta que foi criada em uma comunidade paulistana e que tem seu projeto artístico baseado em intervenções poéticas em transportes públicos da capital.

Relatório Business Insider

Um recente relatório do site Business Insider reuniu os principais canais de aplicação de chatbots, os quais incluem o Messenger do Facebook, Slack e Telegram, bem como empresas que têm contratado esse tipo de serviço, como é o caso da CNN e do Uber, enquanto são iniciativas como o GitHub e Shopify têm oferecido o recurso para sistemas como iOS e Android.

Dentre as conclusões levantadas pelo estudo, incluem:

  • A inteligência artificial atingiu um estado em que os chatbots têm cada vez mais engajado pessoas em conversas. Isso faz com que empresas levem em consideração uma tecnologia de preço acessível e de grande alcance para engajar mais consumidores.
  • Chatbots são particularmente melhor adaptados a dispositivos móveis — talvez mais que em aplicativos. O envio de mensagens está no cerne da experiência mobile, assim como a rápida absorção de aplicativos de conversa têm demonstrado.
  • O ecossistema de chatbots já é robusto, contando com vários bots terceirizados, bots nativos, canais de distribuição e empresas desenvolvedoras dessa tecnologia.
  • Chatbots podem ser lucrativos para aplicativos de mensagem e os desenvolvedores que criam bots para essas plataformas, de forma similar em como lojas de aplicativos têm se transformado em ecossistemas de transação econômica.

Mas, como já vemos aqui no Brasil, os chatbots não precisam necessariamente estar ligados apenas a iniciativas comerciais e da área de serviços. A pesquisadora Alexandra Jayeun Lee explica em um artigocompleto sobre a importância do uso de chatbots sem fins lucrativos e que gerem impacto social.

Segundo ela, ONGs deveriam começar a considerar o chatbot como uma nova vertente de atuação justamente porque outras ferramentas de interface com o usuário são muito caras. Ao mesmo tempo, chatbots podem ser usados como um substituto ou complemento de seções como “Perguntas Frequentes”, de modo a reduzir uma sobrecarga administrativa. Por fim, Lee reforça que chatbots também podem gerar a oportunidade de levantar as questões mais desafiadoras para as organizações bem como preencher lacunas que não estão contempladas no site, por exemplo.

Fora do Brasil, iniciativas como a Botler AI, da startup Botler, têm atuado no auxílio a imigrantes que estão cuidando dos procedimentos legais exigidos para a imigração. Criado pelo engenheiro de software e iraniano Amir Morajev em parceria com o cientista da computação canadense Yoshua Bengio, o bot usa técnicas pioneiras de tradução da linguagem natural estudadas pela dupla. “Eu sabia que essa era uma ideia que precisávamos levar para um outro nível. Quero que a AI seja desenvolvida em direção a um impacto social positivo e este é um lugar em que a AI benéfica deve acontecer”, diz.

Ainda, outros exemplos de chatbots também provaram ser capazes de dar suporte a refugiados sírios, ao criar um canal de silêncio e contemplação aos milhões de chineses que vivem em cidades extremamente populosas, assim como australianosque precisavam de ajuda para ter acesso aos benefícios estaduais oferecidos aos portadores de necessidades especiais.

No caso do Woebot, esse tipo de suporte e aconselhamento é dado diretamente ao usuário que se torna um paciente. Criado por um time de psicólogos e especialistas em inteligência artificial da Standford, o bot usa conversas rotineiras, monitoramento de humor, curadoria de vídeos e jogos com palavras para ajudar os usuários a cuidarem de sua saúde mental. Depois de um ano de desenvolvimento e pesquisa, o Woebot foi lançado com a possibilidade de assinatura mensal aos interessados.

De forma semelhante, porém gratuita, também o chatbot Replika aprende ao conversar com usuário e refletir sua personalidade e estilo de conversação, de modo que este possa enxergar no programa o seu próprio comportamento e atitudes. É nesse sentido de autoconhecimento, mas também de companhia e mesmo de afeto que os chatbots podem atuar na vida das pessoas, como proposto no filme de Spize Jonze, Her (2013).

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