O site Technology Review lançou no último dia de 2017 uma lista das 18 mudanças exponenciais que estão para acontecer neste novo ano que se inicia. Apesar de o foco do relatório ser a tecnologia, vamos encontrar no relatório do estrategista, empreendedor e analista Azeem Azhar algumas novidades que envolvem criptomoedas e inteligência artificial, mas também um lado mais social e humano que pensa como podemos levar em consideração a pegada de carbono e o impacto no meio ambiente, bem como questões relacionadas a uma tendência de consumo mais consciente.
1. As relações internacionais, a economia política e a governança irão precisar desesperadamente de novas estratégias para entrar em uma nova fase de revolução digital.
Essas estratégias, no entanto, precisarão ser desenvolvidas de forma colaborativa, junto à população, e com uma grande participação coletiva. Plataformas massivas globais como o Facebook, Google e Amazon estão redefinindo a economia política de modo que seu poder está ficando acima do poder dos Estados nacionais. É por conta disso que essas empresas já estão preparadas para receber o pedido de implementação de medidas de regulamentação e legislação sobre seus negócios. Esse cenário é particularmente importante e preocupante porque põe em evidência a possibilidade de essas grandes empresas se tornarem mediadoras de vários recursos que precisamos.
2. Apesar de o Vale do Silício liderar, tanto a inovação quanto a expansão tecnológica continuarão crescendo ao redor do mundo.
A Europa e a América Central estão liderando uma nova empreitada de retirar o carbono de suas cadeias energéticas. A China está fazendo grandes investimentos na implementação de eletricidade em seus transportes. Seu foco em inteligência artificial, suporte estatal e grandes empresas de tecnologia atuando no país estão fazendo com que a China ache novas formas de implementar tais novidades em larga escala — e a isso não se engloba apenas suas tecnologias de vigilância.
Com o desaceleramento dos Estados Unidos, chega a vez da União Europeia começar a dar espaço para a inovação ao perceber a importância de se ter vários grupos trabalhando juntos em vez de competindo entre si. É esperado que principalmente o setor bancário se desenvolva na Europa durante este ano.
3. Mais dinheiro estará em jogo no setor de tecnologia, mas ele estará concentrado em grandes setores.
Com fundos maiores que US$5 bilhões, o setor, no entanto, conta com monopólios que podem acabar criando gaps de financiamento no mercado, como já evidenciado no desaquecimento do capital de subsídio europeu e americano.
4. Os softwares de inteligência artificial continuarão divergindo dos software tradicionais.
A isso se incluem novos mecanismos de interface, por exemplo usando a voz tanto como input quanto output, bem como novos players especializados em hardware. Também a computação na nuvem ganhará maiores proporções e um novo paradigma no desenvolvimento de software se demonstrará relevante ao longo de 2018.
5. A inteligência artificial será o principal investimento tecnológico das grandes empresas.
Depois de anos de prototipagem, as tecnologias de automação e software de IA irão dominar a agenda das grandes empresas. Elas irão investir mais e com cifras grandiosas, o que faz com que as startups de inteligência artificial, que agora começam a amadurecer seu trabalho já iniciado em 2013 ou 2014, ganhem mais destaque.
6. Iremos cada vez mais demonstrar como a inteligência artificial está aumentando as capacidades humanas.
Teremos mais evidências dos benefícios tangíveis que a IA pode nos dar individualmente, de modo que a tecnologia se tornará cada vez mais atraente como uma forma de aumentar nossas capacidades humanas. Apesar de especialistas ainda declararem que estamos bem longe de uma inteligência artificial quase humana ou de uma consciência artificial, o interesse continua crescendo e desenvolvimentos se mostrarão mais palpáveis.
7. A discussão sobre como a IA impactará o mercado de trabalho irá mudar de um foco totalmente voltado para a eliminação de empregos para como os trabalhadores podem se adaptar diante dessa mudança inevitável.
Diferentes países terão abordagens variadas para esse problema, o que pode combinar investimento em bens sociais (como educação e segurança), bem como manter um ambiente seguro e saudável para o empreendedorismo e inovação. Isso nos fará progredir mais no entendimento de questões como confiança e equidade em sistemas algorítmicos.
8. Tecnologias de criptografia se tornarão ainda mais importantes e começarão a demonstrar sua utilidade.
Em 2018, aplicações decentralizadas e protocolos baseados em tokens irão aumentar. Essas iniciativas trarão esse novo mindset como solução para problemas gerais, de modo que a combinação entre IA e blockchain serão grandes recursos para se incentivar o compartilhamento de dados, modelos, bem como ao pensar a interação entre máquinas a partir dos contratos inteligentes.
9. Revelações sórdidas no âmbito da especulação de criptomoeda serão ultrapassadas pelo dinheiro que entrará na classe dos ativos.
Existe uma tendência de que mais manobras ilegais e fraudatórias farão parte do âmbito das criptomoedas, mas com isso também a discussão em torno desse tema irá aumentar e, por conta dessa popularização, instituições passarão a investir em moedas virtuais, o que nos faz pensar que talvez essa bolha especulativa possa estourar ou não.
10. KITT, o carro do filme Knight Rider, continuará sendo a grande referência dos veículos autônomos.
Apesar disso, nenhum modelo será lançado publicamente em 2018.
11. O sistema de saúde se tornará um grande interesse para empreendedores.
Agora que temos uma terapia genética aprovada globalmente pela FDA, mais certificações em torno dessa área irão aparecer. Também é provável que testes em humanos com CRISPR sejam feitos já durante esse ano. Ao mesmo tempo, a implementação de técnicas de deep learning na área, bem como estratégias de baixo custo de rastreamento de dados e a produção de imagens médicas mais acessível demonstram um caminho promissor para a área que ganha cada vez mais relevância conforme a população envelhece.
12. Um novo ataque cibernético, em termos de escala ou qualidade, irá ocorrer.
Isso pode envolver ataques em nível de tecnologias de machine learning: seja usando chatbots ou geração de linguagem natural, ataques a senhas inteligentes, especialmente alvos como dispositivos conectados ou sistemas adaptativos que evitam detecção.
13. O meio termo das eleições americanas terá como foco uma sistemática guerra informacional, o que dá vantagem ao crime.
Os principais partidos que ingressarão nas eleições (e vários grupos que não farão parte) passarão a usar várias ferramentas para atingir, persuadir e desviar eleitores como nunca antes.
14. A realidade aumentada continuará em banho maria.
Os entusiastas da realidade aumentada e da realidade mista irão perseverar, mas a oportunidade de uma grande mudança acontecer pode star na união dessas tecnologias com a inteligência artificial e o blockchain, especialmente no âmbito das fintechs, sistema de saúde e energia.
15. A publicidade digital tem sido invasiva por tempo demais, e esse ano ela irá sofrer.
O aprimoramento nas ferramentas de privacidade do iOS e do Google Chrome, além da Regulamentação Geral de Proteção de Dados da União Europeia farão com que as tecnologias de publicidade digital e programática sejam atingidas. No entanto, Facebook e Google mal irão notar essa diferença e continuarão dominando o mercado.
16. A fome por energia advinda da mineração de criptomoedas irá se sobrepor ao crescimento de fontes renováveis de energia.
O preço das fontes renováveis continuará caindo e novos contratos solares e eólicos terão um preço ainda melhor que os combustíveis fósseis podem oferecer. Por outro lado, o consumo de energia da mineração de Bitcoin e outros tokens continuará a crescer mais do que 20% ao mês, a menos que haja uma grande correção no preço. Então por volta de janeiro de 2019, a mineração de criptomoedas poderá estar usando cerca de 10 vezes mais energia do que atualmente, competindo com o consumo de países como a Itália.
17. A ética irá cada vez mais influenciar na escolha dos consumidores e nas estratégias de investimento.
Consumidores irão cada vez mais comprar e tomar decisões de investimento baseadas na concordância entre seus próprios valores éticos e aqueles defendidos por uma marca. Isso ganhará ainda maior proporção em negócios como o setor de seguros, que precisarão se posicionar com relação às mudanças climáticas e questões regulamentais.
18. Buda, Aristóteles, Hayek e Marx retornam à pauta.
Marx voltará a ser assunto por conta das atuais questões trabalhistas, mas também porque a energia se tornará mais barata e as máquinas continuarão evoluindo, de modo que teremos a impressão de estarmos vivendo em um estado de abundância.
Críticos que defendem uma maior intervenção do Estado com relação aos assuntos coletivos irão trazer Marx e Friedrich Hayek para a discussão, de modo que o último autor dará base a questões relacionadas ao mercado como a mais eficiente fonte de informação e mecanismo de transmissão para atrair mais interesse nas redes do tipo blockchain.
Já Aristóteles dará base para a ideia de que, enquanto nos vemos mais prósperos do que nunca, seu conceito de eudaimonia (prosperidade humana) ganhará mais destaque do que o consumismo do “recomendado para você”.
A relevância de Buda, por outro lado, vem junto a uma maior consciência e contemplação da nossa economia de dopamina. Conforme as máquinas se parecem cada vez mais com organismos vivos e a neurociência revela mais mistérios sobre nossa consciência, a meditação e contemplação da nossa subjetividade interior se tornarão o grande santuário da humanidade.