Isso significa que uma nova geração de smartphones será capaz de criar avatares de forma simples, oferecendo a possibilidade de usuários digitalizarem seus rostos e inseri-los em simulações digitais, possivelmente também em realidade virtual. Essa é a premissa do Virtually Dating, projeto que reúne desconhecidos em um encontro às cega após terem seus corpos scanneados para a configuração de um avatar 3D a ser usado em ambientes digitais imersivos.
Em 2016, Mark Zuckerberg mostrou um interesse semelhante quando demonstrou as novas possibilidades do headset Oculuspara videoconferências em realidade virtual e aumentada, desta vez com o uso de avatares digitais. Apesar de os personagens terem sido criados à imagem dos usuários, eles ainda assim portam um aspecto de desenho e não exatamente realista, o que pode nos levar à conexão com o enredo do filme O Congresso Futurista (2013), protagonizado por Robin Wright.
Isso demonstra, ainda, que existe uma parcela da população que não está necessariamente interessada em avatares hiperrealistas e com qualidade fotográfica, mas sim figuras animadas ou até mesmo abstratas, sem necessariamente possuir um corpo humano ou algo próximo disso. Atentando-se a isso, a Microsoft lançou uma nova série de avatares para o Xbox, além de terem um design melhorado, também apresentam novas opções de customização com cadeira de rodas e membros prostéticos, por exemplo, de modo que os jogadores possam se sentir mais representados.
Essa conexão com a representação de si mesmo em forma de personagens animados é especialmente próxima aos fãs da cultura pop japonesa, por exemplo. Para além dos shows holográficos, com uma audiência na casa dos milhares, personagens animados são considerados parte do dia a dia de fãs de animações e quadrinhos japoneses.
Aproveitando essa brecha no mercado e pegando carona com a crescente onda de assistentes digitais e chatbots, a startup Viclu Inc lançou um vídeo conceitual do Gatebox, uma caixa que inclui uma assistente digital holográfica com design semelhante às personagens Vocaloid. Espera-se que o produto esteja disponível ao fim deste ano, sendo que a pré-venda já está liberada aos americanos e japoneses.
Diferentemente da abstrata representação visual que a Apple criou para Siri, a Microsoft acabou estabelecendo uma a conexão entre sua própria assistente digital, Cortana, e a personagem da série de videogames Halo,desenvolvida pelo estúdio 343 Industries, subsidiário da Microsoft. Isto porque, apesar de a assistente não oferecer um rosto para os usuários em sua interface, aqueles que conhecem Halo irão inevitavelmente fazer uma associação com a personagem que serviu de inspiração. Em outras palavras, o fato de a empresa de Bill Gates ter dado um corpo imagético, mesmo que indiretamente, à sua assistente digital prova que essa ponte não se estabelece apenas na Ásia, mas também encontra vazão no Ocidente.
Por outro lado, também na semana passada, o coletivo PretaLab, uma das iniciativas do Olabi Makerspace, anunciou seu mais novo projeto: Beta, um chatbot baseado no Messenger do Facebook e com a missão de disseminar o feminismo. A ideia é manter as pessoas informadas sobre o que está sendo debatido nas redes e nas ruas sobre a luta feminista no Brasil, assim como dar alertas e notificações quando algum assunto ganhar mais destaque ou quando for necessário organizar uma mobilização. Com isso, o chatbot Beta vem com a missão de ajudar homens e mulheres a participar ativamente na luta pelos direitos das mulheres no Brasil e, desse modo, também impedindo retrocessos.
Apesar de existirem poucas imagens que deem um rosto a Beta, é o retrato de uma mulher negra que estampa as redes sociais e o site oficial do projeto. Por enquanto, Beta é um texto interativo em uma conversa no Messenger, mas e se, um dia, ela puder ser um avatar animado a transitar pelos ambientes simulados em realidade virtual?
Beta, o chatbot feminista criado pela PretaLabQuando essa nova camada da internet para encontros e conferências imersivas se tornar presente e acessível, será natural encontrar avatares comandados não por uma outra pessoa por trás do headset, mas por robôs, inteligências artificiais que ganharão autonomia e que, com sorte, não serão desvirtuadas como foi o experimento da Microsoft com seu bot no Twitter. Com sorte, teremos Betas povoando as novas salas de bate papo imersivas junto a Hatsune Mikus e outros seres sintéticos que ainda estamos para conhecer.