Artigo publicado pela PwC Digital Services há dois anos já falava sobre a importância e relevância da metodologia do design fiction para a inovação e o crescimento dos negócios.

Em 2017, a gerente da PwC Australia Amy Gibbs publicou o artigo “Using science fiction to explore business innovation” como uma forma de melhor tangibilizar como esse gênero artístico pode, de fato, gerar inovação em ambientes corporativos.

Como exemplo mais clássico, Gibbs trouxe o fato de tantos aparatos fictícios em Star Trek terem se transformado, nas últimas décadas, tecnologias reais e acessíveis ao público. Para ela, “esses objetos se materializaram na realidade, em parte, porque investidores e cientistas foram inspirados por sua atração conceitual, como eles seriam integrados e usados em um mundo imaginário e, então, encontraram uma forma de tornar pelo menos uma parte disso o futuro no qual vivemos hoje.” Ao contemplarmos esse futuro, continua a autora, com as narrativas nas quais esses novos produtos e serviços são oferecidos, somos melhor instrumentalizados a pensar e construir um projeto de inovação.

“Enquanto a ficção científica frequentemente visualiza possíveis futuros, ela (geralmente) não faz uma profecia sobre eles. Esse é um melhor passatempo para futuristas, economistas e Nostradamus. A ficção científica, enquanto entretenimento, por outro lado, almeja endereçar a condição humana.”

Para Gibbs, a natureza da ficção científica está na sua plausabilidade, o que difere de outras narrativas fantasiosas que tratam de universos que não seguem a mesma lógica que a nossa. “Essa realidade compartilhada nos permite examinar como as inovações poderiam ser usadas e, a partir disso, ver seu valor”, ela argumenta. Nesse sentido, não é surpresa ver diferentes exemplos de obras de ficção científica, sejam elas literárias ou cinematográficas, que se tornaram uma referência de previsão e de influência na maneira como vivemos hoje, como sociedade.

Nesse sentido, metodologias como o design fiction têm como propósito gerar, através da experimentação, a possibilidade de visualizar futuros a partir de um determinado propósito, mas deixando de lado as limitações, sejam elas econômicas ou tecnológicas, do presente. Como explica Gibbs, “o método usa cenários de futuro ficcionais de modo a imaginar e examinar o uso de produtos. Enquanto isso pode ser visto como uma forma de prototipação, há uma diferença sutil no que diz respeito ao universo expandido que está em torno dessas criações.”

O termo, aliás, foi cunhado em 2009 por Julian Bleecker, que o define como define design fiction como uma metodologia que “cria essas peças conversacionais, com as conversas sendo histórias sobre os tipos de experiências e rituais sociais que podem circundar um objeto criado.” Ou, nas palavras do autor de ficção científica Bruce Sterling e um dos nomes mais proeminentes da metodologia, o design fiction “propõe o uso deliberado de protótipos diegéticos para que haja a suspensão da descrença acerca de uma mudança.” Ou seja, é através da mentalidade da ficção científica que se criam objetos, sistemas, comportamentos que geram uma história e um contexto a ser analisado como possibilidade futuro — seja ela boa ou ruim.

Nesse sentido, um dos benefícios do design fiction, como defende Gibbs, é que ele permite que as empresas inventem coisas e as analisem do ponto de vista de aplicabilidade e relevância em um futuro. A isso se incluem aspectos como a interação com esses artefatos, que papel eles representam dentro de um contexto com outros objetos do cotidiano, seus efeitos colaterais e demais questões que podem ser levantadas de acordo com as especificidades da narrativa criada para ele.

“O design fiction possui um foco humano na hora da criação, de forma similar ao design thinking, o qual tem como objetivo resolver um problema do presente. Ao colocar o social ou o humano/consumidor em primeiro lugar e a tecnologia em segundo, permite-se que os designers possam entender a eficácia do produto e discutir suas possíveis falhas.”

Dentre as empresas que já trouxeram o design fiction para dentro de casa estão nomes como a Microsoft, Google, Apple e também a Embraer, aqui no Brasil. No caso das empresas estrangeiras, há também ainda o interesse de se contratar autores de ficção científica e conectá-los com seus desenvolvedores de modo a ajudá-los a expandir sua visão de futuro para além de uma temporalidade mais curta. No entanto, como reforça Gibbs, corporações têm a vantagem de possuir engenheiros que podem transformar a ficção em realidade, mas negócios locais podem não ter a mesma possibilidade, o que nos leva à exploração de outras metodologias e implementações que podem ser mais acessíveis e visando um futuro de menor duração.

“Saber o que criar, quando você é designado com a tarefa de gerar disrupção em um contexto de vantagem competitiva, pode ser um trabalho complicado. A boa notícia é que não apenas divertido escrever um cenário ficcional para seu produto ou linha de negócio como também isso ajuda a gerar ideias. E então, isso permite que você explore esses conceitos de forma mais livre e a partir do zero. Ao extrapolar as tendências sociológicas e econômicas de hoje e ao imaginar o futuro para o amanhã, as empresas podem examinar os usos potenciais de suas competências. Isso dá a elas um objetivo para o desenvolvimento de um produto ou de entrega.”

Desse modo, a dica dada por Amy Gibbs é que as empresas foquem em criar um futuro baseado em tendências que já podem ser vistas no dia a dia do seu negócio, para então extrapolá-las para um futuro ainda mais distante. “Preencha os detalhes do mundo, adicione alguns personagens que interajam com isso e comece a fazer perguntas. Que objetos irão gerar esse novo mundo? Que necessidades você poderia preencher com seu tipo de negócio? Qual seria a mais incrível encarnação do seu produto ou serviço, se dinheiro não fosse um problema? Continue fazendo perguntas, encontre as charadas e então trabalhe para tornar as coisas possíveis.”

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