Aos 24 anos, Cairê Moreira já fundou sua empresa de tecnologia, a Genyz. Em vez de criar uma tecnologia nova, o pós-graduado no MBI Indústria Avançada — Confecção 4.0 encontrou uma forma de fazer escaneamento digital para mapear objetos 3D usando a funcionalidade do Face ID implementada nos novos iPhone X. “A fabricante tinha a intenção de fazer uma versão do Microsoft Kinect, porém mobile, para a plataforma iOS. Essa funcionalidade é comumente usada na indústria de impressão 3D, arquitetura, game e realidade aumentada. O que eu fiz foi utilizá-la no segmento da moda para resolver problemas de modelagem de roupas”, ele conta.
Ou seja, a Genyz oferece o serviço de mapeamento do corpo das pessoas para que medidas customizadas sejam colhidas e, então, a pessoa possa ter acesso a uma roupa criada às suas medidas exatas. Apesar de ser uma proposta que visa ser acessível às pessoas, por se tratar de um aplicativo para celular, Cairê comenta que o valor de um iPhone X ainda é muito alto no Brasil, então as soluções oferecidas por sua empresa são, primeiro, marcar um horário no estúdio para o escaneamento ser feito ou, então, o cliente pode tirar duas fotos em posição 12h e 5h com seu celular e, com a ajuda de um algoritmo recentemente criado, Cairê consegue retirar as medidas. “Para o meio empresarial, o serviço ainda não está disponível. Nosso intuito é continuar o processo de testes e validação para depois compartilharmos os conhecimentos e tecnologias”, explica.
Ainda, a tecnologia que Cairê vem desenvolvendo e aprimorando também já é um primeiro passo para um futuro no qual talvez não precisemos mais ir a uma loja de roupas ou então comprar modelos pré-fabricados pela internet. Com a capacidade de mapear as medidas do nosso corpo com precisão, a tecnologia também se conecta à impressão 3D, de modo que poderíamos, portanto, começar a imprimir nossas próprias roupas em casa e, em última instância, todos os dias. “Sou muito entusiasta com a impressão 3D. Acompanho grupos de estudos na Espanha, que estão mais avançados no desenvolvimento de tecidos impressos em 3D, e também tenho meus próprios projetos que pretendo iniciar testes no próximo ano”, revela Cairê.
Para ele, o futuro da moda está mesmo na impressão 3D, porém ele vai ainda além de pensa na aplicação dessa tecnologia na exploração espacial. “Será necessário criar as coisas no espaço, por questão de peso para decolagem. Sem contar que existem problemas enormes de lixo espacial, então a tecnologia de impressão 3D ajuda no fato de ser facilmente reciclável. Caso uma roupa, por exemplo, sofra alguma avaria, é fácil reutilizar seu material”, ele explica.
Mas enquanto ainda cursava animação 3D na Melies, há quase dois anos, Cairê teve uma ideia que combinava sua intenção de trabalhar com mapeamento 3D à cultura da influência digital. Segundo ele, criar uma personagem e imagens que compõem seu conteúdo narrativo era algo extremamente difícil, já que envolvia diversos processos de modelagem, configuração e renderizações que levariam dias. No entanto, ao entrar em contato com Lil Miquela e Shudu, duas influenciadoras virtuais que reúnem mais de 1 milhão de seguidores em seus perfis no Instagram, Cairê conheceu novas formas e softwares de criação que são bem mais rápidos e com resultados ainda mais realistas. “Foi a partir do momento que entendi a técnica delas que consegui criar a minha personagem, a Mia.”
Para defini-la, primeiro Cairê entendeu qual seria o público que gostaria de atingir e quais seriam seus interesses. Depois de coletar essas informações, ele então conseguiu delinear quais seriam as características físicas, aspirações, medos e pontos fortes da personagem que hoje já possui uma conta própria no Instagram. “Após esse processo, criei a personagem em 3D e o ambiente onde ela passará a maior parte do tempo. Os próximos passos são apenas fechar o desenvolvimento do mapa de empatia dela e sua narrativa.”
Assim como a empresa por trás da influencer Lil Miquela, Cairê está criando a primeira influenciadora virtual do Brasil e também colocando-a em interação com o mundo real. Na semana passada, durante o lançamento do e-book Design Fiction, tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais do processo por trás do desenvolvimento dessa sobreposição do virtual e do real e também um pouco mais sobre a história da Mia. “Ela é meio alienígena, meio humana. Está vindo do espaço para entender melhor os seres humanos e ensiná-los como a lidar melhor com as novas tecnologias que estão surgindo, como a robótica”, conta Cairê.
E os planos para Mia são muitos. Mais do que uma influenciadora virtual no Instagram, Cairê planeja torná-la uma de suas companheiras de trabalho na Genyz, então incorporando outras tecnologias, como inteligência artificial para chatbot, o que levará seu projeto para um patamar ainda mais ambicioso do que já se vê.