Há algumas semanas, a Squid relançou sua marca com um evento fechado para clientes e influenciadores. Lá, diferentes especialistas como Bia Granja, Egnalda Côrtes e Nayara Ruiz trataram sobre as tendências do mercado do marketing de influência, suas relações com as marcas e, acima de tudo, como conciliar a estratégia de marketing com os influenciadores, pensando-os como criadores acima de veículos de divulgação de um produto ou serviço. Em outras palavras, um dos principais assuntos ali debatidos era como essa área de negócios é difícil de ser mensurada objetivamente, ainda que necessariamente precise de uma diretriz quantificada.
Inspirados por esse momento do marketing de influência, mas também com o problema das fake news, a empresa Seed, um ecossistema de cientistas, doutores, empreendedores e escritores ao redor do mundo, organizou um curso educativo para influenciadores e profissionais do marketing de influência, de modo a conscientizá-los sobre as incoerências e incorreções divulgadas tanto pelas marcas quanto pelos próprios influenciadores em seus perfis nas redes sociais. Como descrito no texto “The future of influence is #accountable”, foi reconhecido que dentre mais de 150 mil posts de Instagram com a tag #celeryjuice, havia conteúdos falando sobre como o suco de aipo seria capaz de “remover toxinas” do corpo, “melhorar o colesterol bom”, “restaurar o cérebro” e, o mais absurdo, que o suco seria cpaz de “curar doenças crônicas como doença de Lyme, fibromialgia, diabetes e mais.” O que havia em comum entre todas essas postagens e afirmações? Nenhuma citação, nenhuma referência científica ou a alguma pesquisa feita para provar esse resultado.
Segundo o texto, o movimento do suco de aipo começou com a publicação do livro Medical Medium, de Anthony William, e se espalhou entre as postagens de milhares de bloggers e consumidores que procuravam por respostas e soluções para seus problemas. Isso fez com que milhões de pessoas ao redor do mundo passassem a consumir aipo de forma tão abrupta que nem os fazendeiros conseguiam acompanhar a demanda.
“Como o suco de aipo se tornou #celeryjuice não é novidade. Nós vemos a evangelização crescer todos os dias. O crescimento da indústria do bem estar levantou uma onda de entusiasmo e autocuidado, mas também propagou mensagens incorretas e afirmações hiperbólicas. A desinformação, composta também pela confirmação de vieses (apesar das melhores intenções), é reforçada pelos algoritmos otimizados por cliques e não pela verdade. Então, o que isso significa diante das escolhas que fazemos, como gastamos nosso dinheiro e, mais importante, nossa saúde?”
Mesmo assim, o suco de aipo é algo bastante inócuo se comparado com outros movimentos como o anti-vacina ou de negação às mudanças climáticas, mesmo porque esse tipo de crença levou ao maior surto de sarampo nos Estados Unidos durante os últimos 25 anos. Foi por conta disso que o Twitter e o Instagram se viram forçados a restringir a dissipação desse conteúdo em seus posts e hashtags, o que leva à conclusão de que há uma mudança ocorrendo nas plataformas, porém há mais trabalho a ser feito.
Levando em conta que todas as pessoas são influenciadoras em certa medida, seja influenciando 1 ou milhões de pessoas, todos nós temos o poder de impactar as crenças, o comportamento e as ações de alguém, por bem ou por mal. “Mas o que acontece quando dinheiro entra nessa equação? Somos incentivados a sermos responsáveis? As informações mais verdadeiras serão aquelas com mais likes? Que convertem em mais vendas?”
“Não é um problema novo — estamos tentando definir e forçar regras ao marketing de influência pelo menos desde que temos contas de Instagram para nos influenciar. A Federal Trade Commission manda cartas continuamente lembrando influenciadores e marcas para deixarem públicas as suas relações para consumidores por questões legais e de transparência. A Administração de Alimentos e Drogas enfrenta um enorme desafio em policiar selfies com frascos de comprimidos. E o Serviço de Saúde Nacional da Inglaterra criticou os conselhos irresponsáveis e não seguros de produtos de saúde duvidosos, especialmente quando feitos por celebridades.”
Foi por conta desse cenário que a Seed começou a trabalhar informando e conscientizando marcas e influencers sobre a responsabilidade de suas postagens e presença nas redes sociais. Para isso, eles criaram o projeto Seed University, o qual parte da premissa de que se o aprendizado for incentivado, então poderíamos inspirar mais responsabilidade no marketing de influência? O foco, então, se torna educar esses influenciadores a aprender antes de publicar um link ou um conteúdo em suas redes sociais.
O perfil, já funcionando no Instagram, fala a linguagem da internet com seus memes, gifs e vídeos, de modo a convidar influenciadores a um curso de 59 minutos no total, com seis módulos desenhados para tornar a ciência acessível e engajadora. Os conteúdos incluem informações sobre bactérias, micro biomas, biologia humana, ciência dos probióticos e uma unidade especial dedicada à interpretação do guia da FTC, então informando como, quando e onde um parceiro deve abrir sua relação financeira com uma marca.
Tais movimentos são de extrema importância não apenas porque vivemos em um momento de dissipação de modismos cientificamente infundados, como é o caso do suco de aipo, mas também porque já vimos as consequências da influência das redes sociais e dos algoritmos com a relação entre o Facebook e o Brexit, bem como as eleições americanas de 2016, e ainda pior, os contínuos ataques contra a ciência que reforçam a negação das mudanças climáticas ou até mesmo a suposição de que a Terra é plana. É um começo e um exemplo a ser seguido por mais empresas que não apenas trabalham com ciência, mas também que estão fazendo diferença no marketing de influência.